Mitologia Celta


Prefácio 4
As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica
A Criação 5
Loki e o construtor do muro 8
Thor e seu criado Thialfi 12
Thor em Jotunheim 14
O desaparecimento de Miollnir 23
A espada mágica de Freyr 27
O anel de Andvari 33
Sigmund e a espada enterrada 52
Sigurd e o anel do dragão 61
Sigurd e Brunhilde 73
A morte de Balder 81
A viagem de Hermod 89
O castigo de Loki 95
Freya e o colar dos anões 100
O roubo do Brisingamen 108
A aposta de Loki 116
Odin na corte do Rei Geirrod 123
Thor e o rapto de Loki 131
Idun e as maçãs da juventude 137
O casamento de Niord e Skadi 144
A captura do lobo Fenris 149
O roubo do hidromel 159
Thor e a serpente do mundo 165
O gigante Hrungnir 169
A batalha de Ragnarok 173
O Anel dos Nibelungos
Primeiro Ato - O Ouro do Reno
I - Um anão entre as ninfas 185
II - O preço do Valhalla 191
III - O elmo de Tarn 197
IV - A maldição do anel 205
Segundo Ato - A Valquíria
I - A casa do freixo 215
II - Brunhilde, a Valquíria 223
III - A espada partida 228
IV - A ira de Wotan 234
Terceiro Ato - Siegfried
I - O nascimento de Siegfried 243
II - A revelação do anão 248
III - Um torneio de enigmas 254
IV - Siegfried forja Notung 259
V - O dragão e o anel 265
VI - O despertar de Brunhilde 274
Quarto Ato - O crepúsculo dos deuses
I - O diálogo das Nornas 285
II - Os Gibichungs 291 III - A traição a Brunhilde 297
IV - O engano é desfeito 301
V - A conspiração 307
VI - A morte de Siegfried 312
VII - O fim de tudo 316
Glossário 321
Gráfico genealógico dos personagens 325
Prefácio
A Mitologia Nórdica diz respeito aos povos que habitaram, nos tempos pré-
cristãos, os atuais países escandinavos (Noruega, Suécia e Dinamarca), além da gélida
Islândia. Este conjunto de mitos também teve especial desenvolvimento na Alemanha,
que foi a grande divulgadora da riquíssima cultura dos nórdicos. Com a expansão das
navegações vikings, esta difusão acentuou-se ainda mais, indo alcançar também os
povos de língua inglesa e deixando sua marca até na própria denominação dos dias da
semana destes países (Thursday, por exemplo, é o "dia de Thor"; e Friday, "dia de
Freya").
No século XIII (cerca de trezentos anos após a conversão da Islândia ao
cristianismo), o islandês Snorri Sturluson (1179 - 1241) codificou grande parte destes
mitos no livro Edda em Prosa. Nesta obra, o poeta e historiador islandês registrou
algumas das principais lendas relativas aos deuses e heróis dos tempos pagãos que
recolheu em suas andanças por todo o país. Acrescentou também um extenso tratado de
arte poética, onde ensinava a métrica e o elaborado sistema de metáforas dos escaldos
(poetas que difundiam, oralmente, as antigas lendas).
Apesar de algumas destas histórias serem trágicas (como, por exemplo, a história de
Sigurd e Brunhilde), a maioria delas, ao contrário, tem uma veia cômica bastante
pronunciada, especialmente, aquelas nas quais os deuses são os protagonistas. Jamais
saberemos, no entanto, até que ponto a versão original destas histórias tinha mesmo esta
conotação ou até onde houve a intenção (deliberada, ou não) do cristão Sturluson de
tentar ridicularizar os antigos deuses do paganismo. De qualquer forma, são justamente
estas as histórias mais interessantes e representativas da riquíssima mitologia nórdica.
Nelas, Odin (ou Wotan) e sua irrequieta trupe estão sempre envolvidos em jogos de
enganação com os gigantes, seus eternos inimigos, destacando-se, invariavelmente, o
astuto - e quase sempre perverso - Loki, o enganador por excelência (Loki representa
nesta mitologia um papel análogo ao da velha serpente dos cristãos, que se compraz em
tramar nas sombras a destruição dos deuses). De modo geral, Odin e seus comparsas
saem-se melhor nestas divertidas - e quase sempre violentas - disputas, embora, às vezes, também façam o papel de bobos, como na desastrada visita que Thor fez a
Jotunheim, a terra dos Gigantes.
Fonte de inspiração para as mais variadas áreas, a riquíssima mitologia nórdica
inspirou a criação de muitas obras, como a do escritor inglês J. R. R. Tolkien, que foi
colher na mitologia escandinava o fundamento básico de seu fantástico universo literário.
O argentino Jorge Luis Borges também não escapou a essa influência, dedicando várias
de suas páginas às brilhantes metáforas ("kenningar") que encontrou na poesia
islandesa.1
Outro grande artista que se inspirou nas lendas vikings foi o compositor alemão
Richard Wagner, que as utilizou largamente para compor a sua famosa tetralogia
operística "O Anel dos Nibelungos", que apresentamos sob a forma romanceada de uma
pequena novela, na segunda parte deste volume. O leitor haverá de notar que, embora os
personagens continuem praticamente os mesmos, há, porém, algumas alterações nas
suas denominações (Odin, por exemplo, na transposição de uma mitologia para a outra,
passa a se chamar Wotan), além de ligeiras modificações em seus atributos. Entretanto, o
leitor, que a esta altura já estará familiarizado com o universo mítico dos nórdicos, não
encontrará dificuldade alguma em situar-se na trama, que gira em torno da luta impiedosa
pela posse de um anel maléfico (onde já vimos isto antes?) e das conseqüências que a
ambição desmedida acarreta ao ser humano - e, por fim, ao próprio universo.
Com a inclusão desta obra fundamental da cultura alemã, cremos haver reunido num
único volume as principais lendas relativas à riquíssima mitologia dos povos do norte da
Europa, servindo de introdução a todos aqueles que apreciam estes verdadeiros
devaneios poéticos das raças que são as mitologias de todos os povos.
A Criação
Primeiro, havia o Caos, que era o Nada do Mundo, e isto era tudo quanto nele
havia. Nem Céu, nem Mar, nem Terra - nada disto havia. Apenas três reinos coexistiam: o
Ginnungagap (o Grande Vazio), abismo primitivo e vazio, situado entre Musspell (o Reino
do Fogo) e Niflheim (a Terra da Neblina), terra da escuridão e das névoas geladas.
Durante muitas eras, assim foi, até que as névoas começaram a subir lentamente das
profundezas do Niflheim e formaram no medonho abismo de Ginnungagap um gigantesco
bloco de gelo.
Das alturas abominavelmente tórridas do Musspell, desceu um ar quente e este
encontro do calor que descia com o frio que subia de Niflheim começou a provocar o
derretimento do imenso bloco de gelo. Após mais alguns milhares de eras - pois que o
tempo, então, não se media pelos brevíssimos anos de nossos afobados calendários - o
1
"As Kenningar", "A Metáfora"; J. L. Borges, A História da Eternidade. (Ed. Globo, Obras Completas) gelo foi derretendo e pingando e deixando entrever, sob a outrora gelada e espessa capa
branca, a forma de um gigante.
Ymir era o seu nome - e por ser uma criatura primitiva, dotada apenas de instintos, o
maniqueísmo batizou-a logo de má. Ymir dormiu durante todas estas eras, enquanto o
gelo que o recobria ia derretendo mansamente, gota à gota, até que, sob o efeito do calor
escaldante de Musspell, que não cessava jamais de descer das alturas, eis que ele
começou a suar. O suor que lhe escorria copiosamente do corpo uniu-se, assim, à água
do gelo, que brotava de seus poderosos membros - e este suor vivificante deu origem aos
primeiros seres vivos. Debaixo de seu braço surgiu um casal de gigantes e da união de
suas pernas veio ao mundo outro ser da mesma espécie, chamado Thrudgelmir. Estes
três gigantes foram as primeiras criaturas, que surgiram de Ymir; mais tarde, Thrudgelmir
geraria Bergelmir, que daria origem à toda a descendência dos gigantes.
Entretanto, do gelo derretido também surgira, além das monstruosidades já citadas,
uma prosaica vaca de nome Audhumla, de cujas tetas prodigiosas manavam quatro rios,
que alimentavam o gigante Ymir. Audhumla nutria-se do gelo salgado, que lambia
continuamente da superfície, e, deste gelo, surgiu ao primeiro dia o cabelo de um ser; no
segundo, a sua cabeça; e, finalmente, no terceiro, o corpo inteiro. Esta criatura egressa
do gelo chamou-se Buri e foi a progenitora dos deuses. Seu primeiro filho chamou-se Bor,
e, desde que pai e filho se reconheceram, começaram a combater os gigantes, que
nutriam por eles um ódio e um ciúme incontroláveis.
Esta foi a primeira guerra de que o universo teve notícia e incontáveis eras
sucederam-se sem que ninguém adquirisse a supremacia. Finalmente, Bor casou-se com
a giganta Bestla e, desta união, surgiram três notáveis deuses: Wotan (também chamado
Odin), Vili e Ve. Dos três, o mais importante é Wotan, que um dia chegará a ser o maior
de todos os deuses. E, porque assim será, um dia, ele próprio disse a seus irmãos:
- Unamo-nos a Bor e destruamos Ymir, o perverso pai dos gigantes!
Os quatro juntos derrotaram, então, o poderoso gigante, e com sua morte, acabou
também a quase totalidade dos demais de sua espécie, afogada no sangue de Ymir. Um
casal, entretanto, escapou do massacre: Bergelmir e sua companheira, que construíram
um barco feito de um tronco escavado e foram se refugiar em Jotunheim, a terra dos
Gigantes, onde geraram muitos outros. Desde então, a inimizade estabeleceu-se,
definitivamente, entre deuses e gigantes, cada qual vivendo livremente em seu território,
mas sempre alerta contra o inimigo.
Dos restos do cadáver do gigantesco Ymir, Wotan e seus irmãos moldaram a
Midgard (Terra-Média): de sua carne, foi feita a terra; enquanto que, de seus ossos e seus
dentes, fizeram-se as pedras e as montanhas. O sangue abundante de Ymir correu por
toda a terra e deu origem ao grande rio que cerca o universo.
- Ponhamos, agora, a caveira de Ymir no céu - disse Wotan a seus irmãos, após
haverem completado a primeira tarefa.
Wotan fez com que quatro anões mantivessem a caveira suspensa nos céus, cada
qual colocado num dos pontos cardeais. Em seguida, das faíscas do fogo de Musspell, brotaram o sol, a lua e as estrelas; enquanto que, do cérebro do gigante, foram
engendradas as nuvens, que recobrem todo o céu.
Entretanto, após terem remexido a carne do gigante, com a qual moldaram a terra,
os três deuses descobriram nela um grande ninho de vermes. Wotan, penalizado destas
criaturas, decidiu dar-lhes, então, uma outra morada, que não, o Midgard. Os seres
subumanos, que pareciam um pouco mais turbulentos que os outros, foram chamados de
Anões e receberam como morada as profundezas sombrias da terra (Svartalfheim). Os
demais, que pareciam ter um modo mais nobre de proceder, foram chamados de Elfos e
receberam como morada as regiões amenas do Alfheim.
Completada a criação de Midgard, caminhavam, um dia, Wotan e seus irmãos sobre
a terra para ver se tudo estava perfeito, quando encontraram dois grandes pedaços de
troncos caídos ao solo, próximos ao oceano. Wotan esteve observando-os longo tempo,
até que, afinal, teve outra grande idéia:
- Irmãos, façamos de um destes troncos um homem e do outro, uma mulher! E
assim se fez: ele foi chamado de Ask (Freixo) e ela, de Embla (Olmo). Wotan lhes deu a
vida e o alento; Vili, a inteligência e os sentimentos; e Ve, os sentidos da visão e da
audição. Este foi o primeiro casal, que andou sobre a terra e originou todas as raças
humanas que habitariam por sucessivas eras a Terra-Média. Depois que Midgard e os
homens estavam feitos, Wotan decidiu que era preciso que os deuses tivessem também
uma morada exclusiva para si:
- Façamos Asgard e que lá seja o lar dos deuses! - exclamou ele, que, como se vê,
era um deus de energia e vontade inesgotáveis.
Este reino estava situado acima da elevada planície de Idawold, que flutuava muito
acima da terra, impedindo que os mortais o observassem. Além disso, um rio cujas águas
nunca congelavam - o Iffing - separava a planície do restante do universo. Mas, Wotan,
sábio e poderoso como era, entendeu que não seria bom se jamais existisse um elo de
ligação entre deuses e mortais. Por isso, determinou que fosse construída a ponte Bifrost
(a ponte do Arco-íris), feita da água, do logo e do mar. Heimdall, um estranho deus
nascido ao mesmo tempo de nove gigantas, ficaria encarregado, desde então, de vigiá-la
noite e dia para que os mortais não a atravessassem livremente no rumo de Asgard. Para
isso, ele portava unia grande trompa, que fazia soar todas as vezes que os deuses
cruzavam a ponte.
A morada dos deuses possuía várias residências, as quais foram sendo ocupadas
pelos deuses à medida que iam surgindo. O palácio de Wotan, o mais importante de
todos, era chamado de Gladsheim. Ali, o deus supremo linha instalado o seu trono
mágico, Hlidskialf, de onde podia observar tudo o que se passava nos Nove Mundos e
receber de seus dois corvos, Hugin (Pensamento) e Muniu (Memória), as informações
trazidas das mais remotas regiões do universo.
Entretanto, se na mais alta das regiões estava situado o paraíso daquele soberbo
universo, nas profundezas da terra, muito abaixo de Midgard, estava o Niflheim, o horrível
e gelado reino dos mortos. Lá pontificava a sinistra deusa ú, filha de Loki, que se regozija
Com a fome, a velhice e a doença, e que tem i lado a serpente Nidhogg. Esta se alimenta

dos cadáveres dos mortos e se dedica a roer continuamente uma das raízes da grande 
árvore Yggdrasil, um freixo gigantesco que se eleva por cima do mundo e deita suas 
raízes nos diversos reinos, entre os quais, o próprio Asgard. Ao alto da copa frondosa 
desta imensa árvore, sobrevoa uma gigantesca águia, que vive em guerra aberta contra a 
serpente Nidhogg. Um pequeno esquilo - Ratatosk -, que passa a vida a correr desde o 
alto da Árvore da Vida até as profundezas onde está a terrível serpente, é o leva-traz dos 
insultos que estas duas criaturas se comprazem em trocar sem jamais esgotar seu infinito 
estoque de injúrias. 
Nesta árvore fundamental, diz a lenda que o próprio Wotan esteve pendurado 
durante nove longas noites, com uma lança atravessada ao peito, para que pudesse 
aprender o significado oculto das Runas, o alfabeto nórdico, que rege e governa a vida 
dos deuses e dos homens. Quando seu martírio terminou, Wotan havia se tornado, 
definitivamente, o mais poderoso e sábio dos deuses, tendo o poder de curar doenças e 
de derrotar os inimigos com sua poderosa lança, Gungnir - ao mesmo tempo, sua mais 
poderosa arma e local de registro de todos os seus acordos. 
Yggdrasil é o centro do mundo, e, enquanto suas raízes continuarem a suportar o 
peso de seu prodigioso tronco e de seus ramos infinitos, o mundo estará firme e a vida 
será soberana, sob os auspícios de Wotan, senhor dos deuses. 
Loki e o construtor do muro 
Durante muitos anos, os deuses viveram junto com os mortais até que, um dia, 
Odin, o maior dos deuses, teve a idéia de construir Asgard, a sua morada celestial. Era 
preciso que os deuses tivessem um local só para si, resguardado dos ataques dos seus 
terríveis inimigos, os Gigantes. Nem bem, porém, haviam terminado de construir a cidade, 
depararam-se todos com um grande problema: é que, na pressa, esqueceram de 
construir também uma sólida muralha para se proteger de um eventual ataque de seus 
pérfidos inimigos. Odin e Loki estavam conversando sobre o assunto, tendo ao lado 
outros deuses, como Tyr e Heimdall, quando, de repente, viram passar perto um 
cavaleiro. 
- Uma bela construção a que fizeram...! - disse ele, admirando a arquitetura da divina 
cidade. - Mas, onde está o muro que deveria protegê-lo? 
Os deuses, constrangidos, foram obrigados a confessar que haviam esquecido desta 
parte. 
- Ora, mas isto não é problema! - disse o forasteiro. - Sou o mais hábil construtor do 
mundo e posso erguer um belo e fortificado muro, se assim desejarem. 
Um sorriso de satisfação iluminou a barba ruiva de Odin. Loki, também satisfeito, 
acenou para o homem e lhe disse: - E quanto tempo levará para terminá-lo? 
- Em um ano e meio estará perfeito e acabado. 
- Muito bem, pode começá-lo imediatamente! - disse Loki, aplaudindo o construtor. 
- Esperem! - bradou Odin, interrompendo tudo. - O senhor disse que é o melhor 
construtor de todo o mundo, não é? 
- Sim, honro-me de sê-lo! 
- E, o que pede para realizar a sua tarefa? - quis saber o deus supremo, já 
imaginando que o hábil construtor não pediria pouco. 
- Quero a mão da bela Idun em casamento - disse o outro, confirmando as mais 
negras previsões do maior dos deuses. 
Idun era a deusa da juventude e cuidava do pomar onde brotavam as maçãs a 
juventude, graças às quais os deuses permaneciam sempre jovens e saudáveis.2
- Ora, desapareça daqui! - disse Tyr, o mais valente dos deuses, brandindo o seu 
único punho para o atrevido. 
Heimdall, o guardião da ponte Bifrost, que conduzia a Asgard, como não podia falar, 
protestou tocando sua cometa tão alto no ouvido do estrangeiro, que construtor sofreu um 
sobressalto e precisou de alguns minutos para recuperar inteiramente a audição. Quanto 
aos demais deuses, já iam todos dando as costas, incluindo Odin, quando ouviram Loki 
dizer ao atrevido forasteiro: 
- Muito bem, se puder construir em seis meses, o negócio está fechado! Todos os 
rostos voltaram-se, alarmados, para o imprevidente deus. 
- Imporemos apenas a condição de que realize sozinho a sua tarefa e no espaço de 
um único inverno - disse ainda Loki, sem se importar com as censuras que faiscavam no 
olhar de seus colegas. Para estes, entretanto, disse à boca pequena: - Não se 
preocupem: em seis meses, ele não terá construído nem a metade do muro, o que o 
obrigará a nos entregá-lo de graça! 
- Trato feito! - disse o construtor, que pareceu muito satisfeito com a proposta. No 
mesmo instante, desceu de seu cavalo Svadilfair e meteu mãos à obra. Acoplando um 
trenó à cauda do cavalo, ele começou a empilhar e a arrastar enormes pedregulhos pela 
neve com tanta vontade e determinação, que todos os deuses empalideceram, menos 
Loki, que olhava para o homem com um sorriso irônico. 
2
Na transposição da mitologia nórdica para a germânica, a deusa da juventude passa a se chamar Freya, 
em vez de Idun. Por se tratar, entretanto, de uma história específica da mitologia nórdica, optamos pela 
fidelidade à nomenclatura original. Além disso, já há uma outra Freya entre os nórdicos, com um caráter 
bastante distinto daquela a qual nos referimos. (N. dos A.)- Não se aflija, bela Idun! - disse ele à infeliz deusa, que vertia pelos olhos 
pequeninas lágrimas douradas. - São fanfarronices do primeiro dia; amanhã, ele á estará 
exausto e jamais conseguirá terminar o muro dentro do prazo estipulado! 
Mas, no segundo dia, o ritmo não diminuiu; na verdade, aumentou e, ao fim do 
primeiro mês, o estrangeiro já havia construído um bom pedaço, grande o bastante para 
deixar em pé os cabelos de Odin. 
- Loki, seu idiota...! - disse ele, chamando o responsável pelo iminente desastre. - Se 
a coisa for neste passo, antes mesmo dos seis meses, ele terá concluído o maldito muro 
e perderemos Idun e as maçãs da juventude! Não lhe passou pela cabeça, cretino, que 
este construtor pode ser um gigante disfarçado a tramar a nossa destruição? - indagou 
Odin a Loki, que cocava a cabeça, com um ar culpado. 
Idun, por sua vez, observava noite e dia, com desolação, a movimentação do 
construtor e cada pedra que ele depositava a mais sobre o muro, era um golpe cavo que 
soava em seu peito. Seus olhos estavam sempre postos sobre as costas suadas do 
infatigável construtor e de seu portentoso cavalo que arrastava no trenó, sem um minuto 
de descanso, os grandes pedregulhos. 
O tempo passou e faltavam agora somente cinco dias para a chegada do verão e um 
pequeno trecho para que o muro estivesse concluído. 
Odin fez um sinal para que Heimdall fizesse soar a sua trompa, convocando os 
deuses para uma reunião de emergência. 
- E agora, seu tratante? - disse Odin, tão logo avistou Loki adentrar o salão. - Já que 
foi esperto o bastante para nos meter nesta enrascada, trate de arrumar um jeito de nos 
tirar dela, caso contrário, você irá para o sombrio Niflheim, onde sofrerá torturas tão cruéis 
que nem mesmo sua filha Hei o reconhecerá! 
- Verei o que posso fazer, poderoso Odin - disse Loki, o qual, se era imprevidente a 
ponto de se meter a todo instante em enrascadas, não era menos hábil em se safar 
destas mesmas situações. 
Loki internou-se numa grande floresta e, naquela mesma noite, enquanto o 
construtor trabalhava com a ajuda de seu cavalo, ele retornou de lá transformado numa 
belíssima égua branca. Postando-se diante do cavalo do construtor, a égua começou a 
relinchar melodiosamente (tanto quanto um eqüino possa ter alguma melodia), o que fez 
com que Svadilfair arrebentasse, afinal, os freios que o mantinham preso ao trenó e 
seguisse a égua floresta adentro. 
- Ei, espere, aonde vai? - gritou o construtor, espantado. 
O cavalo, entretanto, lançara-se numa corrida tão desenfreada que, por mais que 
seu dono tentasse alcançá-lo, não pôde fazê-lo. Depois de descansar um pouco e refletir, 
porém, o construtor farejou naquilo o dedo de Loki. 
- É claro! - exclamou furioso. - Tão certo quanto sou um gigante disfarçado de 
construtor, esta égua não passa do maldito Loki disfarçado! O gigante, então, vendo que não conseguiria terminar o muro sem o auxílio de seu 
prodigioso cavalo, resolveu reassumir a sua forma natural para tentar completar a tarefa. 
Odin, contudo, que a tudo assistia de seu trono, exclamou tomado pela ira: 
- Tal como eu imaginava: o tal construtor não passa, na verdade, de um maldito 
gigante!... Ótimo, pois com isto fico também desobrigado de meu juramento! - Odin 
suspendeu no ar a mão que alimentava seus dois lobos, Geri e Freki, e ordenou, 
imediatamente, que um servidor fosse chamar seu filho Thor. 
- Thor, preciso que, mais uma vez, faça uso de seu martelo Miollnir para derrotar 
este gigante impostor! - disse Odin, depositando todas as esperanças em seu valente 
filho. 
Thor não esperou segunda ordem: empunhando seu martelo e afivelando bem à 
cintura o seu cinto de força, foi até o gigante, que empilhava, freneticamente, imensos 
pedregulhos no afã de terminar logo a sua tarefa. O rio de suor, que lhe escorria dos 
membros, fizera com que a neve ao seu redor tivesse derretido toda. 
- Ora, vejam...! - disse Thor, ao se aproximar dele. - O pequeno construtor virou, 
então, de uma hora para a outra, um gigante atarefado? 
- Fique longe de mim! - disse o outro, carregando em desespero a última pedra que 
faltava para completar o muro. 
Porém, antes que tivesse tempo de colocá-la sobre o último vão do muro, Thor 
arremessou seu martelo com tal força e velocidade, que a cabeça do gigante se 
esmigalhou inteira. 
- Aí está, patife, o seu pagamento! - disse o deus, recolhendo Miollnir. O gigante 
teve, logo em seguida, o restante de seu corpo jogado nos gelos eternos de Niflheim. 
- E então, tudo correu bem? - disse Odin ao filho, tendo ao lado Idun. 
- Já deve estar construindo seus muros na terrível morada de Hei! - disse Thor, 
enquanto retirava sua pesada luva de ferro. 
Todos os deuses regozijaram-se com uma grande festa, aliviados que estavam pela 
derrota do gigante. Entretanto, em meio a ela, alguém perguntou: 
- E Loki? Que fim levou o espertalhão? 
De fato, Loki havia desaparecido de Asgard desde o instante em que entrara na 
floresta com o garanhão do gigante. Durante muito tempo, ninguém ouviu falar dele até 
que, um belo dia, ressurgiu, trazendo um belíssimo e prodigioso cavalo negro de oito 
patas. 
- Ora, viva! Finalmente, reapareceu! - exclamou Odin, que, no entanto, parecia mais 
interessado no cavalo do que no deus desaparecido. - Apresento a vocês Sleipnir, o cavalo mais veloz do universo! - disse Loki, todo 
sorridente. 
Loki, por mais incrível que possa parecer, tornara-se pai de um cavalo; mas, para 
quem já havia sido anteriormente pai de um lobo e de uma serpente, não havia nisto nada 
de surpreendente. Entretanto, percebendo que Odin apaixonara-se, perdidamente, pelo 
cavalo, tratou logo de lhe dar o animal de presente na esperança de fazer com que 
esquecesse, rapidamente, de suas trapalhadas. 
E foi assim que Odin se tornou dono do cavalo mais veloz do universo. 
Thor e seu criado Thialfi 
Thor, o deus do trovão, tinha um fiel servidor chamado Thialfi. Eles se conheceram 
da seguinte maneira: Thor e o astucioso Loki haviam decidido ir até a Terra dos Gigantes 
(Jotunheim) para que Thor desafiasse aqueles arrogantes seres a uma disputa de força, 
bem ao gosto da época. Após um dia de cansativa viagem, entretanto, resolveram fazer 
pouso numa casa muito pobre - pois era a única que avistaram nas proximidades. Thor 
desceu sua carruagem puxada por dois vigorosos bodes e junto com Loki pediu 
alojamento por aquela noite. Estavam já sentados à mesa para matar a fome de um dia 
inteiro de caminhadas, quando Thor percebeu que aquela frugalíssima refeição não seria 
nem de longe o suficiente para saciar o seu monstruoso apetite. 
- Só isto: duas nozes e um pedaço rançoso de queijo? - disse Thor, com o 
semblante irado, ao dono da casa e à sua mirrada esposa. 
- É o que a pobreza nos permite, poderoso deus...! - disse o humilde anfitrião. Mas, 
neste momento, ele escutou o balir de suas duas cabras, que estavam lá fora, no 
pequeno redil. 
- Garoto, vá até lá e traga já os dois animais! - disse Thor a Thialfi, que era o filho do 
dono da casa. 
Thialfi deu um olhadela em seus pais e estes confirmaram, sem coragem para 
contestar o desejo do irascível deus. Num instante, as duas cabras estavam na sala 
apertada, espremidas com os demais. 
- Matem-nas e façam uma bela caldeirada! - disse Thor ao casal. 
O velho, entretanto, temeroso de que isto pudesse enfurecer o deus, disse: 
- Mas, poderoso deus, são as suas cabras!... 
- Loki, mate-as você, já que nossos anfitriões se recusam a nos saciar a fome! - 
bradou Thor, com o semblante ainda mais irado. Loki deu cumprimento à ordem, e logo os pedaços das duas cabras estavam 
nadando dentro de um imenso caldeirão. Thor e Loki comeram com imenso prazer, mas 
Thialfi e seus pais mal puderam mastigar alguns bocados, pois temiam estar cometendo 
algum sacrilégio. 
Thor custou a perceber a angústia dos anfitriões, mas, uma vez avisado por Loki, 
tratou de lhes acalmar a aflição. 
- Não se preocupem - disse ele, com a barba ruiva manchada pelo molho. - Basta 
que recolham os ossos das duas cabras e os coloquem dentro de suas respectivas peles 
e amanhã os animais estarão inteiros outra vez. 
O rosto dos anfitriões iluminou-se e, somente então, puderam comer a refeição - ou 
pelo menos o que sobrara dela - com gosto e alegria. 
Loki, entretanto, dominado pelo seu furor em armar confusões, decidiu aprontar uma 
para cima daqueles pobres coitados. Cochichou, matreiramente, ao ouvido de Thialfi: - 
Thor não lhes deixou grande coisa: veja só o que restou...! 
De fato, dentro do caldeirão restavam apenas os ossos das duas cabras, lisos como 
pedras. 
- Abra um deles e chupe o tutano! - cochichou ainda a Thialfi. - Verá que não há 
nada mais saboroso do que o tutano de uma bela cabra cozida! 
O jovem, esfomeado, seguiu o conselho e saboreou o petisco. Terminada a refeição, 
foram todos deitar, não sem antes devolver os ossos às respectivas peles. 
Nunca uma noite foi tão contrastante como aquela, pois enquanto os dois visitantes 
dormiam e roncavam como duas sonoras tubas, os moradores da casa não podiam 
desgrudar os olhos, lá de seus miseráveis leitos, das peles recheadas de ossos, que 
jaziam atiradas a um canto. Mesmo quando tentavam fechar os olhos para dormir um 
pouco, tudo o que conseguiam ver nesta modorra angustiante era as duas cabras 
desconjuntadas, tentando se manter, desesperadamente, em pé e o deus tomado pela 
ira, arrebentando com tudo. 
Porém, tão logo amanheceu, o velho dirigiu-se humildemente a Thor, e disse, 
enquanto fazia girar em suas encarquilhadas mãos o seu velho gorro: 
- Poderoso Thor, será que elas voltarão a ser como eram...? 
- Elas quem?... - disse o deus, com as barbas emaranhadas pelo sono. 
- As suas cabras! - disse o velho, apontando para as peles cheias de ossos. 
- Ah, sim! - exclamou o deus, tomando de seu martelo Miollnir. - Aproximando-se, 
então, dos restos dos animais, tocou-os com o martelo e eis que ali estavam outra vez, 
inteiros c saudáveis, os dois animais! 
- Viva! - exclamou Thialfi junto da mãe, que batia palmas feito uma criança. Mas cedo desfez-se a alegria, pois logo Thor percebeu que uma das cabras coxa. 
Thor, encolerizando-se, ameaçou matar a família inteira, enquanto Loki tapava a boca 
com a mão para esconder o riso. 
Os dois velhos arrojaram-se diante do deus e clamaram de mãos postas: 
- Por favor, poderoso Thor! Perdoa a gula de nosso irresponsável filho! Há muitos 
meses que não sabia o que era provar o gosto de uma carne! 
Mas, Thor estava irredutível e prestes a fazer descer seu pavoroso martelo sobre a 
cabeça dos infelizes quando o velho, em desespero, disse-lhe: 
- Leve consigo o meu filho! Ele será seu escravo para sempre! Somente então, Thor 
sentiu aplacar sua ira. 
- Está bem, levarei o jovem comigo! - disse ele, encaminhando-se para a porta, 
juntamente com Loki, o causador de tudo. 
E foi assim que, ao mesmo tempo, Thialfi tornou-se o servo predileto de Thor e dois 
pobres pais perderam o animo de sua velhice. 
Thor em Jotunheim 
O deus Thor, filho de Odin, estava viajando rumo a Jotunheim, a terra dos 
Gigantes, junto com Loki e seu criado Thialfi, quando chegaram todos a uma grande 
floresta. 
- Alto! - disse ele, erguendo o braço. - Vamos parar aqui e procurar um lugar 
protegido para passar a noite. 
Cada qual seguiu para um lado até que Thor exclamou: 
- Acho que encontrei um bom lugar! 
Thor estava diante da entrada de uma imensa caverna; portando um archote, ele 
adentrou-a junto com os demais. 
- É um lugar amplo e bem seco! - disse o servo Thialfi. 
- Será que não é a toca de algum animal? - perguntou Loki. 
- Vamos ver! - disse Thor, avançando mais para o interior. 
Após investigar com cautela o local, perceberam que estava desabitado. 
- Vejam! - exclamou Loki. - Há várias câmaras por aqui! De fato, a caverna bifurcava-se em cinco câmaras amplas e separadas do tamanho 
de grandes salões. 
- Vamos passar a noite nesta - disse o deus do trovão, acomodando-se junto com 
Loki e Thialfi na mais ampla das câmaras. 
Os viajantes dormiram um bom pedaço da noite, quando, subitamente, foram 
despertados por um tremendo baque seguido de um ruído assustador, que lembrava o 
grito de mil ursos. 
- O que foi isto? - exclamou Loki, pondo-se em pé. 
Thor e Thialfi ficaram alertas, mas ao ruído seguiu-se um profundo silêncio. Então, 
todos voltaram a dormir e, como o ruído assustador não voltasse a acontecer, estiveram 
em paz o restante da noite. 
Na manhã seguinte, saíram todos da caverna. 
- Que ruído pavoroso terá sido aquele? - indagou Thialfi, que ainda estava intrigado 
com o incidente da noite. 
- Esqueça - disse Thor -, florestas escuras como estas são pródigas em ruídos 
misteriosos. 
Mas, o deus estava enganado, pois, logo adiante, deram de cara com um 
monstruoso gigante que, estirado na relva, ainda dormia profundamente. 
- E esta agora? - disse Thialfi, amedrontado. 
- Vamos embora, antes que ele acorde! - sussurrou Loki, dando as costas do 
gigante. Infelizmente, a orelha dele era tão grande, que captou o sussurro dos três e, 
logo, seus gigantescos olhos abriram, cobertos por remelas do tamanho de batatas fritas. 
- Quem são vocês e o que fazem aqui? - gritou a criatura prodigiosa, erguendo-se 
com uma rapidez espantosa para alguém do seu tamanho e se pondo i procurar algo com 
grande avidez. 
- Sou o poderoso Thor e venho com meus companheiros de Asgard no rumo de 
Jotunheim - disse o deus, empunhando por cautela o seu martelo Miollnir. 
Mas o gigante continuava a andar de lá pra cá, sem dar muita atenção aos 
forasteiros até que, de repente, deu um grande grito: 
- Ah, achei!... 
Era a sua luva, que Thor e os demais haviam tomado por uma caverna. E a câmara, 
que todos haviam achado confortável e espaçosa, não era mais do que o polegar da luva! 
- Sou Skrymir e vou indo também para Jotunheim - disse ele, enquanto ajeitava a 
luva. - Por que não vamos todos juntos? Loki deu uma olhadela para Thor, mas este fez um sugestivo sinal com o martelo 
para que aceitassem o convite do gigante. 
Após uma rápida refeição, seguiram em frente, tentando a muito custo acompanhar 
as enormes passadas do gigante, que andava adiante deles, balançando nas costas sua 
ruidosa mochila de provisões. Ao ver, entretanto, que os asgardianos também levavam 
algum mantimento, declarou com a mais cândida das vozes: 
- Hum... vejo que vocês também têm o seu farnel! Partilhemos, então, como bons 
companheiros de viagem, as nossas provisões...! 
Skrymir tomou as mochilas dos três e as introduziu dentro da sua e, com isto, estava 
feita a partilha.Assim, viajaram durante todo o dia com o gigante regalando-se de hora em 
hora, ao mesmo tempo em que os outros penavam sede e fome contínuas, até que o dia 
escureceu novamente e todos acomodaram-se sob uma grande árvore para descansar e 
passar a noite. O gigante, entretanto, antes de começar a roncar disse aos outros para 
que se servissem, livremente, dos mantimentos que havia em abundância na sua mochila, 
acrescentando cinicamente: "dormir de estômago vazio provoca pesadelos". 
Não houve uma transição muito grande entre suas palavras e seu sono, pois antes 
que sua boca se fechasse novamente, fez-se ouvir por toda a floresta o som de seu 
poderoso ronco. Enquanto isso, Thor, tão faminto quanto os seus companheiros, tentava 
abrir a maldita mochila. Infelizmente, ela estava tão bem amarrada, que foi impossível 
desatar-lhe um único nó. Depois de lutar por um longo tempo com os nós cegos, Thor 
acabou por perder de vez a paciência e exclamou, irado: 
- Definitivamente, este gigante sujo está debochando de nós! 
O deus agarrou o seu martelo e avançou para o gigante, que permanecia 
adormecido, e desfechou um furioso golpe em sua testa. Um estrondo cavo ressoou por 
toda a floresta, como se um pavoroso trovão tivesse eclodido. 
- O que houve? - disse Skrymir, abrindo um de seus olhos. - Oh, esta árvore deve 
estar cheia de ninhos de pássaros, pois acaba de cair uma pena de um filhotinho sobre a 
minha testa. - Depois, voltando-se para Thor e seus companheiros, perguntou: - Como é, 
já fizeram a refeição...? - Mas, antes que o deus pudesse responder - e certamente 
reclamar - Skrymir já havia adormecido outra vez. 
Thor, inconformado com a desastrada tentativa, empunhou novamente o seu martelo 
e chegando ao pé do gigante desferiu-lhe novo golpe, agora, sobre o topo do crânio. 
Skrymir acordou e levando a mão à cabeça, resmungou: 
- Diacho! Agora foi uma noz que caiu! - Em seguida, virou de lado e voltou a dormir, 
como se nada houvesse acontecido. 
Loki e Thialfi observavam as infrutíferas tentativas de Thor sem nada dizer, 
temerosos de que a ira do deus acabasse por se voltar contra eles. Thor resolveu esperar 
que o dia começasse a amanhecer para tentar um último e definitivo golpe. "De manhã estarei descansado e, então, darei cabo deste miserável!", pensou, acomodando-se para 
dormir. 
Tão logo o sol raiou, ele se pôs em pé, mais disposto, embora ainda esfomeado e 
percebendo que o gigante ainda dormia profundamente, tomou de seu martelo e aplicoulhe um golpe tão violento, que o instrumento se enterrou até o cabo dentro da cabeça do 
desgraçado, que acordou com um grande bocejo. 
- Ou estou muito enganado - disse ele, alisando os cabelos - ou algum passarinho 
largou uma titica sobre a minha cabeça! - Pondo-se em pé, Skrymir conclamou os demais 
para que também acordassem. 
- Vamos, preguiçosos...! - disse ele, estendendo os braços e derrubando dezenas de 
árvores à direita e à esquerda. - O sol está alto e Jotunheim já está perto! 
Já haviam começado a andar, quando Skrymir resolveu advertir-lhes: 
- Preparem-se, pois lá encontrarão gigantes de verdade! 
- Quê? - exclamou Thialfi, incrédulo. - São ainda maiores do que você? 
- Maiores...? Você deve estar brincando! - disse o gigante, dando uma sonora 
gargalhada. - Meu nanico, logo vocês verão que eu não passo de um anão perto deles! 
Andaram mais um pouco, até que chegaram a uma grande encruzilhada. 
- Muito bem, aqui nos separamos - disse Skrymir abruptamente. 
Os três entreolharam-se, surpresos, não sem uma ligeira e indisfarçada 
manifestação de alívio. 
- Mas você não vai para Jotunheim? - perguntou Loki. 
- Não, vou para o norte, mas vocês devem seguir a estrada que vai para leste. Doulhes, entretanto, o conselho para que evitem se mostrar arrogantes quando chegarem à 
terra dos gigantes, pois os habitantes do lugar, e em especial Utgardloki, não admitem 
que forasteiro algum demonstre presunção diante deles - ainda mais, umas formiguinhas 
feito vocês. 
Antes que Thor pudesse responder, o gigante já estava tomando o seu rumo. 
- Adeus, amigos! Foi um prazer viajar ao seu lado! - disse Skrymir, lançando para as 
costas a sua recheada mochila. Com duas ou três passadas, desapareceu pela floresta, 
deixando Thor e os outros a caminho do país dos gigantes. 
*** 
Os três companheiros já haviam caminhado bastante desde a separação, quando 
avistaram uma cidade no fim de uma extensa e elevada planície. - Vejam, lá está um grande palácio! - disse Loki, apontando para a construção, que 
mesmo de longe já era imensa. 
Aquele era o castelo de Utgardloki, um dos reis de Jotunheim, o qual, embora o 
nome, não tinha parentesco algum com o acompanhante de Thor. 
Na verdade, era um palácio tão alto que ao tentar avistar a mais alta de suas torres 
quase caíram todos de costas. Quando baixaram os olhos, novamente, deram-se conta 
de que os imensos portões estavam fechados. 
- E agora, poderoso Thor? - disse o servo Thialfi, cocando a cabeça. 
- Vamos tentar abri-los à força - disse o deus do trovão, apoiando as duas mãos na 
porta maciça, enquanto retesava os músculos das pernas para tentar entrar no palácio. 
Loki e o criado uniram-se aos esforços do deus, mas foi tudo em vão: as portas não 
moveram-se um único milímetro. 
- Ufa!... - exclamou Loki, enxugando o suor da testa. - Por que não tentamos bater a 
aldrava? 
De fato, havia uma gigantesca aldrava de bronze colocada no meio do portão, mas 
estava fora do alcance de qualquer um deles. Então, Thor, depois de estudar melhor a 
porta, descobriu que havia uma pequena fenda entre as duas pesadas folhas. Para os 
gigantes era uma fenda tão desprezível que seus olhos não podiam nem percebê-la, mas, 
para os visitantes, era uma passagem perfeitamente possível de ser atravessada - desde, 
é claro, que não se importassem em se espremer um pouquinho. 
- Vamos entrar neste palácio nem que seja a última coisa que eu faça! - exclamou 
Thor, que possuía em grau admirável a virtude da persistência. 
Thor se espremeu, então, até conseguir ultrapassar a estreitíssima fenda, sendo 
seguido imediatamente pelos dois companheiros. 
- Ótimo! - exclamou Loki. - Já estamos dentro! 
- Chhh! - fez Thor. - Temos de pegá-los de surpresa, senão nos expulsarão daqui 
antes mesmo que estejamos em seu salão. Ou esqueceu que deuses e gigantes são 
inimigos implacáveis? 
Os três foram avançando, assim, pé ante pé, enquanto vozes retumbantes ecoavam 
pelos corredores. Por diversas vezes cruzaram com sentinelas postados à margem dos 
vastíssimos corredores, mas eles eram tão imensos em comparação com os intrusos, 
que, a menos que tivessem olhos nas canelas, jamais teriam sido capazes de percebê-
los. 
- É ali o salão dos gigantes! - disse Thor aos demais. 
Tomando a dianteira, o deus escalou um pequeno banquinho e se fez anunciar dali 
com sua portentosa voz, que, no entanto, diante do vozerio assumiu as proporções 
diminutas do zumbido de um mosquitinho. Loki, sempre apreciador do ridículo, seja humano ou divino, fazia um grande esforço 
para controlar o seu riso, enquanto que o criado Thialfi fingia ter perdido algo pelo chão. 
Tomando, então, Miollnir, o seu poderoso martelo, Thor começou a malhar o banco onde 
estava até fazê-lo em pedaços. 
- Atenção, todos! Sou Thor e vim aqui para desafiá-los! 
Algumas cabeçorras, atraídas pelo ruído do martelo, voltaram-se para a direção de 
onde provinha aquele minúsculo, mas agora nítido ruído. Ao avistar Thor, entretanto, 
puseram-se a rir, deliciados, apontando para os visitantes dedos enormes como toras de 
carvalho desprovidas de ramos. 
- Oh, então, você é Thor, o famoso deus do trovão? - exclamou uma voz, postada na 
ponta da grande mesa onde estavam assentados os gigantes. Ela pertencia a Utgardloki, 
o maioral do lugar. 
- Sim, é Thor, o matador de gigantes, quem está à sua frente! - esbravejou o deus 
num assomo verdadeiramente admirável de audácia. 
- Oh, longe de nós querermos pôr à prova a veracidade de suas palavras - disse o 
líder dos gigantes, descobrindo os dentes num ar de evidente deboche, embora, 
interiormente, tivesse dúvidas se não seria mais prudente evitar um confronto com o 
famoso deus (vai que era mesmo verdade o que diziam de sua força...!). 
- Muito bem, forasteiros, aproximem-se - disse Utgardloki, fingindo-se bom anfitrião. - 
Há sempre lugar à minha mesa para mais três bocas! 
"Ainda mais deste tamanhinho!", disse ele à boca pequena (por assim dizer) aos 
seus vizinhos de mesa, que imediatamente caíram na gargalhada. 
- Mas, para que desfrutem de minha generosa hospitalidade - continuou a dizer 
Utgardloki em tom grandiloqüente -, terão os três de nos brindar com algum prodígio de 
força ou habilidade! 
Loki, que não estava para muitas conversas, e sentia dentro do estômago um buraco 
do tamanho daquelas criaturas, adiantou-se e disse: 
- Quanto a mim, o único prodígio do qual me sinto capaz, neste instante, é o de 
comer mais do que qualquer um de vocês! 
- Muito bem, está aceito o desafio! - disse um deles, erguendo-se no mesmo 
instante. Era Logi, um dos gigantes mais fortes - e seguramente mais esfomeado - de 
todo o bando. - Vamos começar o desafio imediatamente! 
Loki sentou-se em frente ao gigantesco Logi e, logo, travessas imensas de carne 
foram postas diante dos dois. Para Loki, a carne foi servida sob a forma de pernis, 
enquanto, para o gigante, foram servidos bois inteiros. 
Dado o sinal, os dois competidores arreganharam os dentes e lançaram-se às suas 
porções com terrível voracidade. Loki fez jus à sua fama de voraz comilão, tendo esvaziado a sua travessa no mesmo espaço de tempo que o adversário. Só que este, 
como a perfeita personificação da Fome, não só devorara a sua porção como também os 
ossos e a travessa, o que lhe valeu a vitória. 
- Muito bem, agora é a sua vez, nanico! - disse Utgardloki a Thialfi, que aguardava 
em suspense a sua vez de provar o seu valor. 
- Bem, se eu tenho alguma virtude, senhor gigante - foi dizendo o criado de Thor - é 
a de ser o mais veloz dos mortais. Por isto, desafio qualquer um dos presentes a me 
vencer numa corrida. 
Hugi, o mais veloz dos gigantes ali presentes, bradou da outra ponta da mesa: 
- Vamos, saiam da frente, que esta é comigo! 
Thialfi voltou o rosto, rapidamente, em direção ao distante local de onde a voz soara, 
mas antes que seu eco tivesse terminado, ele já estava diante dele. 
- Então, nanico, está pronto? - disse Hugi, com um sorriso superior. 
O rei ergueu-se e foram todos para uma pista que havia no lado de fora do castelo. 
Os dois, Thialfi e Hugi, foram colocados lado a lado, até que Utgardloki concluiu, a seu 
modo, a contagem regressiva: 
- Dez! nove! oito! sete! quatro! seis!... Dez! nove! oito! cinco! dois!... Dez! nove! sete! 
seis! meia dúzia!... Ora, inferno, partam de uma vez! 
Os pés de ambos começaram a correr com tal agilidade, que ficou muito difícil 
observá-los. Mas, com um esforço maior podia-se divisar as pernas de Thialfi, as quais 
alternavam-se com tamanha rapidez que pareciam imóveis. 
De repente, entretanto, percebeu-se num pasmo, que Hugi já estava voltando! 
De fato, o gigante fora tão rápido, que chegara ao fim da pista e retornava agora, 
cruzando por Thialfi, com uma grande risada. E, antes que o pobre Thialfi conseguisse 
completar o trajeto, o gigante voltou e venceu-o pela segunda vez. 
Com Thialfi derrotado, chegara a vez de Thor enfrentar o desafio. Como estivesse 
muito sedento, propôs aos gigantes uma disputa de bebida. 
- Tragam-me o maior chifre que houver, repleto de hidromel e beberei tudo de um 
único gole! - disse o deus, confiante em seu fôlego prodigioso. Utgardloki trouxe um chifre 
verdadeiramente imenso - tão imenso, que não se podia enxergar a sua extremidade - e o 
colocou diante de Thor. 
- Pronto, aqui está, falastrão! - disse ele. - Se for mesmo forte, beberá seu conteúdo 
de um só trago. Se não for tão resistente assim, precisará de dois grandes tragos. Agora, 
se for um maricas, então, terá de dar três longos goles. Mas, não creio que tal aconteça, 
pois nunca ninguém tão fraco assim se apresentou por aqui! - acrescentou o gigante, 
empinando logo o chifre. Thor encheu os pulmões de ar e colou a boca ao bocal, puxando todo o conteúdo do 
gigantesco chifre. Suas bochechas ficaram infladas e lustrosas, mas tão logo engoliu 
aquele grande trago, percebeu que ainda havia muito para ser engolido. Na verdade, a 
marca que indicava a quantidade existente dentro do recipiente mal se movera. Derrotado 
na primeira tentativa, Thor tomou novo fôlego e puxou nova e assustadora quantidade 
para dentro da boca, que quase estourou de tanto líquido. Mas, foi em vão: a marca 
permanecia praticamente inalterada. Os gigantes entreolhavam-se com risos e caretas. 
- Não quer tentar uma última vez? - disse Utgardloki ao pé do ouvido de Thor. 
Enchendo os pulmões de ar, o deus sorveu um último e prodigioso gole, a ponto de 
o hidromel escorrer-lhe pelas barbas numa verdadeira cachoeira. 
- Desisto! - disse Thor, sabendo que nem em mil goles conseguiria beber todo o 
conteúdo. 
- Que pena! - exclamou Utgardloki, falsamente condoído. - Pensei que o poderoso 
deus fosse um pouquinho mais resistente! Mas, como você é uma divindade muito 
respeitada, vou dar-lhe uma nova chance em um novo desafio! - disse Utgardloki, fazendo 
sinal para que trouxessem o seu grande gato cinzento. 
- Temos aqui uma nova competição da qual participam somente as crianças: 
consiste apenas em levantar do chão meu gato de estimação. É lógico que eu não teria 
me atrevido a propor tal brincadeira ao grande Thor seja não tivesse comprovado a sua 
lamentável fraqueza! 
O magnífico gato, apesar de também ser gigantesco, não parecia, de fato, 
representar um desafio acima das forças de Thor. Por isso, o deus acolheu o desafio com 
um sorriso de alívio. 
Thor aproximou-se do bichano, dizendo: "Aqui, Mimi, aqui!" O gato aproximou-se de 
mansinho com suas patas branquinhas da cor da neve e ronronou suavemente. Então, o 
deus envolveu o gato em seus poderosos braços e começou a suspendê-lo - ou a 
imaginar que o suspendia, pois na verdade o gato apenas esticara um pouco as suas 
pernas para dar a impressão de que cedia aos esforços do deus. 
- Está difícil, deus do trovão? - disse o gigante, escarnecendo. 
Todos os demais riam fungado, fazendo coro com o rei, inclusive, o gato, que 
parecia ter na boca ornada por elegantes bigodes um sorriso sutil de ironia. 
Por mais que Thor forcejasse, nada conseguiu, além de fazer o gato erguer uma de 
suas patas brancas, o que pareceu, por fim, mais uma condescendência do bichano do 
que qualquer mérito seu. 
- É fracote mesmo! - disse um dos gigantes, dobrando-se de tanto riso. 
Utgardloki balançava a cabeça numa fingida desolação. Thor, entretanto, tornara-se a tal ponto irado por causa de tantas humilhações, que 
resolveu lançar um último desafio aos atrevidos gigantes. 
- Está bem, sou pequeno - disse o deus, espumando de raiva -, mas quero ver qual 
de vocês está disposto a lutar comigo! 
- Meu amigo - disse Utgardloki, olhando para os homens sentados nos bancos -, 
aqui os fortes só brigam com os fortes. No entanto, conheço alguém a quem talvez você 
possa fazer frente. Chamem Elli, a minha velha ama - disse o rei a um lacaio. 
Dali a instantes entrou no salão uma velha de cabelos ralos e brancos, que 
endereçou a Utgardloki um sorriso deserto de dentes. 
- Velha Elli, aí está um desaforado que diz poder derrotá-la! - disse o gigante à 
velhota, que, no mesmo instante, começou a arregaçar as saias, preparando-se para o 
embate. - Mostre a ele quem é o mais forte por aqui! 
O deus e a velha postaram-se no centro do salão e a um sinal do gigante a luta 
começou. Thor arremessou-se à adversária com certa cautela, pois não pretendia 
maltratar aquela velha centenária. Mas, ela não era nada daquilo que aparentava, e 
dando um pulo para o lado, que fez inveja ao próprio gato, esquivou-se do ataque e veio 
postar-se às costas de Thor. Em seguida, aplicou uma valente chave em um dos braços 
do adversário com tal força, que Thor viu-se obrigado a se ajoelhar e a reconhecer a 
derrota. 
Com isto, encerraram-se as disputas. Thor e seus humilhados companheiros 
receberam um leito cada qual para descansar antes de partir na manhã seguinte. Tão 
logo os primeiros raios do sol surgiram no horizonte, já estavam os três prontos para ir 
embora daquela terra infamante. Utgardloki mandou que lhes servissem uma mesa 
repleta de iguarias e bebidas. Depois, acompanhou-os até a porta da cidade, e, antes que 
partissem, perguntou: 
- E, então, Thor, gostou da viagem e da hospitalidade? 
- Se lhe agrada saber, direi que nunca fui tão humilhado em toda a minha vida! - 
disse o deus, cabisbaixo, louco para ganhar a estrada. 
- Bem, agora já pode se acalmar - disse Utgardloki, tão logo haviam transposto os 
portões do palácio. - Agora, que você está fora da cidade posso lhe contar o que, 
verdadeiramente, ocorreu. 
Os três entreolharam-se, sem nada entender. 
- Palavra de honra, se soubesse que possuía uma força tão descomunal e 
companheiros tão extraordinariamente competentes jamais teria permitido que aqui 
entrassem. Na verdade, iludi-os o tempo todo com minhas artimanhas. Primeiro, na 
floresta, onde amarrei a mochila com arame para que não pudesse desamarrá-la. 
- Você? - exclamou Loki. - Sim, Skrymir era eu mesmo! - disse Utgardloki com um grande riso. - Aquelas três 
pancadas que me desferiu com seu martelo, seguramente, teriam-me esfacelado o crânio, 
caso me tivessem realmente atingido! Mas, fui hábil o bastante para enganá-lo no 
momento certo, entrando para debaixo da terra, de modo que suas pancadas atingiram 
enormes montanhas, produzindo aquelas fendas profundas, que podem ver lá adiante. 
Os três asgardianos olharam naquela direção e viram três grandes abismos que o 
martelo de Thor abrira naquelas encostas. 
- Da mesma forma, foram enganados nas outras disputas - continuou a dizer o 
gigante. - O adversário de Loki na disputa da comilança não foi outro, senão o próprio 
Fogo, que devora tudo quanto encontra pelo caminho. Já aquele contra quem Thialfi 
disputou a corrida era o Pensamento, sendo impossível a qualquer um correr na mesma 
velocidade que ele. 
Loki e Thialfi pareceram aliviados ao descobrir que não haviam sido humilhados, 
afinal. 
- Quanto a você, poderoso Thor, jamais poderia ter esvaziado aquele imenso chifre, 
pois ele estava ligado na outra ponta ao inesgotável oceano; mesmo assim, se olhar bem 
na direção do mar, verá que ele está com a maré bem baixa, o que prova a quantidade 
prodigiosa de água que engoliu! Quanto ao gato, cumpre dizer que operou um feito não 
menos invejável, pois aquele bichano era na verdade a serpente Midgard, a vasta 
serpente que contorna toda a terra com suas longas espirais. Ficamos verdadeiramente 
espantados quando vimos que havia conseguido erguê-la um pouco acima do chão. Mas, 
de todas as derrotas, com certeza, a menos infamante foi a que lhe pareceu a mais 
vergonhosa: pois aquela velhota contra a qual lutou era a própria Velhice e jamais alguém 
pôde vencê-la em tempo algum. 
Ao escutar o fim do discurso de Utgardloki, Thor mostrou-se tão furioso - pois, afinal, 
havia feito papel de bobo diante de toda aquela corte - que ergueu seu martelo Miollnir, 
pronto a aplicar um castigo de verdade ao gigante. Este, porém, percebendo o perigo, 
desapareceu instantaneamente. 
Sem se dar por vencido, Thor retornou ao castelo para destruir tudo, mas quando lá 
chegou, uma última decepção o aguardava: o castelo havia desaparecido, como num 
passe de mágica! 

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